Sobre skate, persistência, futuro e oportunidades...

Gosto de andar de skate com meu filho. 
Claro que não é fácil acompanhar um garoto de 12 anos, mas é algo que curto muito. Aliás, a parceria com o filho para tudo é o maior e melhor anti-stress que conheço. Nada tranquiliza tanto e deixa a vida mais leve do que praticar alguma atividade com ele. Agora estamos combinando que vamos começar a correr juntos. Certamente minhas corridas de exercício serão muito mais prazerosas a partir daí.


Mas voltando ao skate. Digo, brincando, que eu ando de skate e que o meu filho pula de skate. Minha curtição é “dar aquele rolê” (ele diz que isso é jeito de “véio” falar...) e a curtição dele são as incontáveis manobras com o skate. O ollie, o flip, o heelflip, o pop shove it, o varial flip, e por aí vai...
Acho que andar de skate pode ser uma maneira de minimizar a distância do mar. Quem mora no litoral tem sempre pertinho uma “pista de surf”, e o skate faz os “coroas” de Porto Alegre, por exemplo, minimizarem a frustração de estar longe da água salgada e suas ondas. Mas claro, isso é só mais uma teoria dessa minha mente efervescente. Eu me enquadro nessa, mas certamente não é a de todos.
O certo é que enquanto eu prefiro o skate numa pista longa, plana, sem obstáculos, isso é justificado por eu ter bem mais que os 12 anos dele, meu filho e uma legião de garotos gostam mesmo é de pistas cheias de rampas, caixotes, corrimãos, obstáculos de todas as formas.
Na maioria das vezes em que ele quer ir numa pista dessas eu apenas acompanho munido de uma cadeira e meu chimarrão. Nesses dias minha maneira de curtir o guri é observando. E é daí que desenvolvi uma nova esperança no ser humano. Se tiverem um tempo em alguma oportunidade, parem para observar a gurizada numa pista de street skate. São dezenas de piás fazendo manobras das mais simples às mais complicadas e errando muitas vezes mais do que acertando, caindo na maioria delas, mas sem hesitar ou desistir em momento algum. E isso é que acho mais bacana neles. A persistência, a determinação, a vontade, o “eu vou conseguir”. Mesmo que não seja naquele dia, mas eles vão conseguir. A gente vê um garoto tentando a mesma manobra uma, duas, dez, vinte vezes, sem parar, sem desistir. E normalmente a persistência leva ao êxito. Naquele dia, ou em outro. Mas é fácil acompanhar a evolução daquela gurizada. Penso que eles devam de alguma forma usar no futuro essa determinação toda, que aquilo ali que fazem no street pode ser uma base para suas atividades no futuro. Aliás, quando conseguem dominar uma manobra e repeti-la com mais acertos que erros, dizem que “essa tá na base”. Vou além. Tenho a pretensão e a esperança de imaginar que toda aquela determinação ficará “na base” para eles como lição de vida. Mesmo que eles ainda não saibam disso.
O que poderá lhes faltar então? Oportunidades. Acho que essa é a nossa missão. Aqui, no meu meio familiar, procuro dar as oportunidades que meu filho precisa para praticar suas manobras no skate com toda aquela determinação, coragem e persistência que tem, apesar das canelas permanentemente roxas com os hematomas.
Nesse mundão que os aguarda lá fora, nós, que já curtimos mais o embalo do skate numa pista longa e lisa, com aquela sensação gostosa do ar puro no rosto, precisamos criar as oportunidades para essa geração que hoje tem 10, 12 anos, e já mostra que poderá encarar o mundo e suas dificuldades com uma determinação impressionante. No meu caso a observação é sobre o skate, que além de um exercício constante de persistência é uma atividade física saudável onde a força vem das pedaladas, o atrito é com o ar enquanto estão sobre, e obviamente com um chão duro quando vem as quedas. Claro que existem outras formas.
Mas a persistência, isso é o que me impressiona nessa gurizada. Tanto que chega a me trazer mais esperança em um mundo melhor onde eles possam colocar a prova e vencer por sua própria força e determinação.
Não me assusto mais com as quedas, os hematomas, arranhões ou ossos quebrados. O que me preocupa mesmo é deixar para esses guris de hoje, skatistas, profissionais de amanhã, um mundo onde eles possam colocar a prova toda essa vontade, persistência e determinação. Tenho certeza que eles vencem. E esse mundo não precisa ser fácil, precisa apenas ser justo.
Será que conseguiremos?

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